sábado, 7 de março de 2009

A Superproteção de Nimzowitch

Caros leitores

Olá!

Nesta oportunidade farei uma citação à clássica obra de Aaron Nimzowitch : "Meu sistema".

Este livro , escrito nos anos 20 do século passado , ainda hoje encontra-se na cabeceira de jogadores dos quatro rincões do planeta (principalmente aqueles adeptos de uma boa leitura filosófica).

Mais especificamente abordarei o conceito de superproteção. Para ilustrar darei um exemplo da obra em questão e um outro da minha própria experiência enxadrística. Nos comentários mostrarei não apenas as palavras do inventor do conceito , mas também a minha visão pessoal das partidas.

(1) Nimzowitch,A. - Giese [B12]



(Quando não houver citação os comentários serão de minha autoria). 1.e4 c6 2.d4 d5 3.e5 Af5 4.Ad3 Axd3 5.Dxd3 e6 6.Ce2 Db6 7.0-0 Da6 8.Dd1 Cd7




Esta poderia ser a sequência inicial de lances, pois na obra citada a partida começa desde esta posição ,esboçada num diagrama. Aqui pondera Nimzowitch : " Podemos observar a "superproteção necessária em "e5" , que é um peão forte que tem avançado bastante. Vemos que a defesa atual ("d4") é insuficiente , porque as brancas devem contestar à jogada negra c5 com dxc5 ( equivalente a perda da base da cadeia e ao abandono da casa "d4") e, portanto ,superprotegeremos "e5" com o auxílio de peças da seguinte forma " : 9.Cd2 Ce7 10.Cf3 Primeira proteção do ponto forte "e5". 10...Cg6 [Um jogador com espírito moderno teria preferido 10...c5 e se 11.dxc5 ,como recomendaria Nimzowitch, (11.c3 Cc6) 11...Cc6 12.Af4 Axc5 a iniciativa branca no flanco do rei seria dificultada pela necessidade constante dos "superprotetores" vigiarem o seu "protegido" , além da ausência do bispo de casas brancas para atacar o ponto "h7".] 11.Te1 Segunda proteção de "e5". 11...Ab4 12.c3 Aa5 13.Af4 Terceira proteção de "e5". 13...0-0 14.Ag3 Ac7 15.Cg5 Nas palavras de Nimzowitch : "Agora de forma drástica documenta-se a força interna da superproteção. Os superprotetores semimortos , que eram Cf3 , Bf4 e a veterana Te1 , ao sairem de seu sono desenvolvem uma ação considerável." 15...Tfe8 [Ainda não era tarde para 15...c5 , por exemplo : 16.Cf4 Cxf4 17.Axf4 f6 18.Cf3 (18.exf6 Axf4 19.Cxe6 Txf6 20.Dg4 Tg6 21.Df5 Ae5 22.Cxc5 Cxc5 23.dxc5 Af6 24.Dxd5+ , a peça a menos está compensada pelos três peões.) 18...cxd4 19.cxd4 fxe5 20.Axe5 Cxe5 21.Cxe5 Axe5 22.Txe5 Tf6 e se existisse alguma vantagem branca esta deveria ser mínima ,pois a debilidade do ponto "e6" em grande medida pode ser compensada pelo peão "d4".] 16.Cf4 Ch8 [As pretas ,em vão ,creem que a defesa de "f7" e "h7" basta para neutralizar o ataque branco.Aqui ,ou mais adiante ,era necessário 16...Ad8 para eliminar o cavalo de "g5".] 17.Dg4 Cf8 18.Te3 "Pode-se apreciar como a veterana torre estava a espera da luta que se vai desencadear." (Nimzowitch) 18...b6 [Creio que todos teremos uma "ligeiríssima" impressão que há assuntos mais importantes ocorrendo na outra ala .Era a última oportunidade para 18...Ad8 ] 19.Ch5 Chg6 20.Tf3 Te7 21.Cf6+ Rh8 Segundo Nimzowitch as brancas poderiam concluir a partida (o que de fato aconteceu não o sabemos) com : 22.Cfxh7 Cxh7 23.Cxf7+ Txf7 24.Txf7 Nimzowitch conclui dizendo : "A ideia de fundo era a seguinte : a superproteção de uma casa importante (no caso "e5") constitui uma "boa ação" , e tem sua recompensa pela ampliação do raio de ação dos superprotetores". 1-0






(2) Matsuura,Everaldo - Madeira,Wagner M. [B05]

Jogos Abertos do Interior Campinas, 1994



1.e4 Cf6 2.e5 Cd5 3.d4 d6 4.Cf3 Ag4 5.Ae2 e6 6.0-0 Ae7 7.c4 Cb6 8.Cc3 0-0 9.Ae3 a6?!
[Este lance ,aliado ao seguinte ,mais propriamente representa uma perda de tempo . Se as pretas desejavam realizar 9...d5 deveriam tê-lo feito agora. Depois de : 10.c5 Axf3 11.gxf3 (11.Axf3 Cc4 12.Ac1 b6 13.b3 Ca5) 11...Cc8 a estrutura do flanco do rei branco teria sofrido uma avaria.] 10.b3 d5 [10...Cc6 seria um contrasenso à jogada anterior : 11.exd6 cxd6 12.d5 exd5 (12...Axf3 13.Axf3 Ce5 14.dxe6 Cxf3+ 15.Dxf3 fxe6 16.Dxb7) 13.Axb6 (13.Cxd5 Cxd5 14.Dxd5) 13...Dxb6 14.Cxd5] 11.c5 C6d7 A estrura central lembra uma Defesa Francesa .Há ,no entanto, duas diferenças fundamentais (uma a favor de cada bando) :o bispo negro de casas brancas está fora da cadeia (aparentemente favorável às negras) e o peão branco em c5 (a favor das brancas) .Neste momento percebi que poderia utilizar o conceito da "superproteção" em uma circunstância favorável , pois a ruptura c5 já não existe. 12.Ce1! Axe2 13.Cxe2!



Agora as brancas poderiam responder à ruptura f6 com Cf4 e o peão de "e6" encontrar-se-ia em sérios apuros. 13...Cc6 [13...f6 14.Cf4] 14.Cd3 b6 15.b4 Assim as brancas tem "superprotegidos" os seus peões "e5" , "d4" e "c5" . Estes pontos são de importância estratégica : "e5" concede vantagem de espaço na ala do rei e ,portanto, possibilidades de ataque às brancas ; "d4" é a base da cadeia branca ;e finalmente "c5" impede o contrajogo negro por meio de c5. 15...Db8 [Se 15...a5 16.b5 Cb4 17.c6 Cb8 e este cavalo assistiria ao resto da partida sem sair do lugar.] 16.Cef4 Agora ,parafraseando Nimzowitch, "os superprotetores começam a sair de seu sono". 16...Te8 17.Dg4 Cf8 18.Ch5 Cg6 19.f4 Diferentemente ao exemplo dado por Nimzowitch as brancas optam pela ruptura f4-f5 para que as duas torres possam operar contra o ponto "f7". 19...Cd8 20.f5 exf5 21.Txf5 bxc5 22.bxc5 Db5 23.Cdf4 Db2?! [Após : 23...Dc4 24.Tf1 Tf8 25.Cf6+ gxf6 26.exf6 Axc5 27.dxc5 Ce6 (27...De4 28.Dh3) 28.Dh3 o ataque branco, apoiado agora pelo posto avançado "f6" , desenvolve-se naturalmente.; As pretas poderiam , no entanto, opor uma defesa mais tenaz : 23...Dc6 24.Tf1 Tf8 e ,posto que a vantagem branca fosse evidente , não se veria nenhum arremate imediato.] 24.Tf1 Dxa2 [24...c6 não evitaria o sacrifício em f7 : 25.Txf7 Cxf7 26.Cxg6 Ag5 27.Axg5 hxg6 (27...Cxg5 28.Dd7 Ch3+ 29.gxh3 Dxd4+ 30.Tf2 Dd1+ 31.Rg2) 28.Af6 (28.Dd7 Dxd4+ 29.Rh1 Tf8 30.e6 Cxg5) 28...gxf6 29.Dxg6+ Rf8 30.Dg7+ Re7 31.Dxf6+] 25.Txf7! Um sacrifício já conhecido do leitor! 25...Cxf7 26.Cxg6 Ag5 [Havia a ameaça Cxe7 seguido de Dxg7. A captura 26...hxg6 conduziria ao mate : 27.Dxg6 Af8 28.Cf6+] 27.Axg5 hxg6 28.Dd7 gxh5 [Era mais resistente 28...Tf8 , embora após : 29.e6 gxh5 30.exf7+ Rh7 31.Ae7 De2 32.Dxd5 De3+ (32...Dxe7 33.Dxh5#) 33.Rh1 De2 34.Df5+ g6 35.Df6 a vitória estaria a um passo de distância.] 29.Dxf7+ Rh8 30.Dxh5+ Rg8 31.Df7+ Rh8 32.Af6 Farei aqui uma breve explanação sobre o meu próprio ponto de vista acerca do desenrolar dos acontecimentos : 1) As brancas possuiam vantagem de espaço na ala do rei proporcionado pelo peão "e5" ; 2) As pretas ficaram impossibilitadas de romper neste ponto e também em sua base ("d4"), em parte devido aos "superprotetores" ,e em parte ao peão "c5" ; 3) A vantagem espacial normalmente concede mais possibilidades de ataque , pois é muito mais fácil e rápido para o lado que a possui transferir os efetivos para este setor ; 4) Próximo ao desenlace final o bando atacante havia concentrado mais forças no flanco do rei do que o oponente ; 5) O arremate final foi uma consequência da conclusão anterior. 1-0







4 comentários:

  1. Muito boa postagem! Mi Sistema é um livro polêmico decerto mas na minha opinião tem muito valor ainda apesar das imperfeições táticas (Nimzo forçava a barra!). Muitos GM´s não gostam do livro mas já li outros (modernos, Grischuk, por exemplo) que disseram que estudaram e recomendam (Veja também Dvoretsky em Positional Play.
    Acho que Mi Sistema só é legal de ler pela 2ª parte, onde esboça os conceitos dele de profilaxia (sobredefesa seria uma "profilaxia interna").
    Hoje em dia parece que o xadrez moderno é só profilaxia. A propósito leia o que o homem escreveu em 1925 sobre "Caminhos para o Jogo Posicional", pág. 184 da Editora Solis.
    O que você acha do livro afinal?
    É isso aí, filosofei como bom capivara! mas você disse que o livro era uma boa filosofia!!

    Grande abraço, Everaldo!

    Eduardo Maia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Onde ele forçava a barra "taticamente"? O que eu ouvi falar de alguns GMs é algumas aberrações históricas como o fato dele se auto intitular, por exemplo, o inventor da superproteção. Algumas imperfeições do livro que achei por exemplo, foi ele citar a Philidor como uma abertura moderna. Estou lendo e gostando muito porque consigo entender de forma mais fácil que varios outros livros. Nimzowitsch sabia escrever muito bem e suas analogias são deliciosas, essa eu acho a melhor parte... comparar um peão passado com um deliguente que não adianta vigiar e sim encarcerar é impagável, só elas ja valem o livro.

      Excluir
  2. Maia
    Olá!
    Gosto mais do livro hoje do que quando o li pela primeira vez.Talvez a obra tenha um tom "algo" pretensioso e isso venha a desagradar àqueles que desgostam de conceitos muito rígidos.Seja como for o legado de Nimzowitch tem um valor inquestionável , embora seus escritos tenham que ser postos à luz do xadrez contemporâneo.
    Hoje os meus conhecimentos enxadrísticos são maiores e a minha capacidade em distinguir se um conceito pode ser aplicável em uma determinada circunstância também ampliou.
    Pode ser que por esta razão goste mais do livro agora do que antes.
    Um abraço
    Everaldo

    ResponderExcluir
  3. Mestre eu queria te pedir uns conselhos
    to tendo umas dificuldades com calculos
    oq faço?

    ResponderExcluir